Fases do desenvolvimento infantil
Autoria de Jeane Gonçalves de Souza e Keile Cristina Silva Paixão
Campos (2001), em suas análises constatou que a concepção de educação infantil vem-se constituindo a partir de movimentos sociais que acarretam mudanças na visão da criança, do seu desenvolvimento, da família e do papel da mulher na sociedade. Com base nestes indícios percebemos que a criança hoje vive mais sozinha em busca de soluções para os conflitos evidenciados que são próprios dessa fase. Percebe-se elas sendo inseridas mais cedo nas escolas ou nas creches do que antigamente onde víamos as mulheres desempenhando tão somente o papel único de mãe e do lar, não se destacando na sociedade em um mercado de trabalho considerado hoje tão competitivo pra ambos os sexos.
A criança ao se desenvolver passa por estágios, o qual necessita de intervenções e apoio, de estrutura familiar e direcionamento. A escola vem desempenhando muitas vezes este papel e por sinal muito bem, no caso das creches principalmente que hoje vai dando uma outra reestruturada no binômio cuidar e educar, muitas vezes acaba por assumir o papel que seria da família, o qual deveria ser presente e atuante.
Wallon (1934), afirma que os estágios pelo qual a criança passa, são caracterizados pelos domínios funcionais da afetividade, do ato motor e do conhecimento, sendo desenvolvido pelo meio social.
Para ele estes estágios começam na vida intra-uterina. Quando a criança nasce ela parte então para o estágio impulsivo emocional, onde prevalecem as emoções. Em um segundo estágio, que vai até os dois anos, o sensório-motor, volta-se para a exploração do mundo físico, com a aquisição da marcha e a aquisição da fala, a criança apresenta modificações no seu padrão de interação com o mundo.
O caminho da independência com o surgimento do “não” e do uso do “eu, exalta a luta da criança para auto afirmar-se, auto-possuir-se, reconhecer-se como pessoa distinta do outro com direito a vontades e necessidades próprias”. Nessa fase, o avanço do domínio motor permite a criança aumentar o seu espaço, afastar-se da mãe, promovendo a posse de novos conceitos, o acesso à capacidade de simbolização que permite a separação e a diferenciação eu - mundo. (ANTONY, 2006).
Aos três anos, ocorre o estágio do personalismo, a constituição do eu, onde a criança em seu confronto com o outro passa por uma crise de personalidade, caracterizada pelas mudanças nas suas relações e o aparecimento de novas aptidões, esse estágio vai até os seis anos e é fundamental para a formação da personalidade, ele se divide em três períodos, porém todos com o objetivo de tornar o eu mais independente e diversificado, são eles:
ü Período da negação: necessita de auto-afirmação;
ü Idade da graça (aos 4 anos): desenvolve maneiras de ser admirada e chamar atenção a fim de receber elogios e aprovações;
ü Período da imitação (aos 5 anos): marcada por uma reaproximação do outro, manifestado pelo gosto de imitar.
Antony (2006), afirma que a angústia de separação gera o medo do abandono e da perda da proteção que ocorre em tenra idade quando não há recursos psicológicos disponíveis para o auto-suporte. Crianças que sofrem separação precoce ou que recebem ameaças de separação desenvolvem reações de medo, ansiedade, sentimentos de insegurança que resultam em condutas de apego ansioso.
É onde percebemos a importância das interferências, das estruturas, da segurança a ser transmitida em cada fase, cada um cumprindo o seu papel sem transferência de responsabilidades, principalmente quando é de responsabilidade da família que é a base construtora.
O homem na verdade, apresenta um comportamento construído por ele próprio ao interagir com o meio em que vive. Crianças têm estruturas mentais diferentes das dos adultos; determinam à realidade e vêem o mundo de modo diferente. (PIAGET apud SIGNORETTI). Nas pesquisas de Piaget, mais tarde fomentadas por Wallon, ele coloca quatro fatores que influenciam o desenvolvimento mental da criança;
v Maturação física e do sistema nervoso;
v Capacidade de experimentação, de manipulação, de movimentos e pensamentos sempre em situações concretas;
v Interação social no jogo, na conversa, no trabalho com outras crianças e com os adultos;
v Equilibração reunindo maturação, experiência e socialização para a construção e a reconstrução das estruturas mentais.
Para ele, as operações mentais são ações executadas pelo cérebro do individuo, constituindo-se parte do pensamento racional e produzindo resultado.
Cada processo de maturação deve ser respeitado e estimulado de forma que proponha subsídios para sanar conflitos geradores da própria idade. É onde entra o conto de fadas, histórias que transmitem valores em linguagens entendíveis, histórias essas que devem ser contadas com o real teor de seus conteúdos, pois são eles que dão ênfase e transmitem as mensagens em um nível de compreensão simbólico que somente crianças são capazes de transportá-las para seu mundo real amenizando assim seus conflitos.
Fantasia e imaginação
Betelheim (1992), afirma que uma criança confia no que o conto de fadas diz por que a visão de mundo aí apresentada está de acordo com a sua, seu pensamento é animista. Logo que a criança é capaz de imaginar, isto é fantasiar uma solução favorável para seu período presente, as explosões temperamentais desaparecem, pois se uma criança é incapaz de imaginar seu futuro de modo otimista, estabelece-se uma parada no desenvolvimento. Sabemos que quanto mais infelizes e desesperados estamos, mais precisamos ser capazes de envolver-nos em fantasias otimistas, ou para nós em outra linguagem, em sonhos, que é a mesma fantasia.
Betelheim (1992) esclarece que nenhum conto de fadas por si só fará isto pela criança, necessitamos primeiro que instilem esperança em nós. Embora a fantasia não seja verdadeira, os bons sentimentos que ela nos dá sobre nós mesmo e o nosso futuro são reais porque acreditamos e deixamos nos envolver com a certeza de que tudo vai dar certo ou que vou lutar e vencerei, e isso é que nos sustenta só que para a criança ela só consegue ver isso implantado de forma simbólica, nos super heróis, nos príncipes, rainhas e princesas, não é a toa que a criança sempre quer ser um daqueles personagens, ela na verdade quer tomar o lugar do personagem para se sentir protegida. Porque será que uma criança quer ser o príncipe da história ou a princesa? É nítido, pois a princesa sempre é salva e o príncipe sempre luta com todas as forças para superar o mal e no final ele vence, ou seja, ele é do bem.
Neste sentido a criança se vê no cenário e compreende, ao fantasiar e imaginar ela busca soluções de forma prazerosa, se sente mais calma, mais segura, e vai moldando a sua personalidade de acordo com suas pequenas construções psicológicas que a leva a maturação e posteriormente á lógica para solucionar seus conflitos na vida adulta, preparando-a para viver numa sociedade competitiva e ser capaz de viver em grupo.
Contos de fadas, Interferências x Benefícios.
Betelheim (1992) diz que através dos contos de fadas crianças se beneficiam de forma mais significativa pelo fato de tudo ocorrer através do inconsciente, ela dá o significado de várias formas, só depende do que ela vive no momento.
A criança apaixona e pede repetidamente para ouvir um conto desde que ele tenha sido significativo pra ela. A literatura deve estar em fácil acesso próprio a idade pois mesmo sendo um bebê, ele já consegue fazer leitura de gravuras a seu modo e compreendê-las demonstrando imenso prazer, essas emoções mais tarde irão trabalhar sentimentos projetando-se nos personagens, e quanto mais cedo ele desfruta dos momentos de história, mais chances terão de se tornar adultos seguros.
“Uma leitura que não se limita á decodificação é instrumento de auto compreensão e estabelecimento de ricas relações interpessoais“. (ANDRÉ, 2004)
O conto proporciona prazer, a criança precisa ter contato significativo com os livros, quando se conta um conto utiliza-se de vários recursos entre dramatizações, entonações de voz, sonoridade da voz e pela percepção visual, ali se transmite idéias que são transformadas em significados para conflitos do seu mundo.
Betelheim (1992) expõe um caso similar em sua obra de uma criança que se encontrou amparada na história da Branca de Neve. A criança vivia abandonada pela mãe que era fria e distante e ao ouvir a luta da Branca de Neve com sua madrasta transportou a situação para sua crise existencial de forma a acreditar que o resgate aconteceria.
Neste momento fica claro que a criança trocou de papel com a Branca de Neve e assim passou acreditar numa possível solução para o seu problema.
O conto de fadas proporciona a descoberta de sua identidade a partir do interior, à comunicação e socialização, encontra-se sua própria solução através da contemplação do que a história parece implicar acerca de seus conflitos internos neste momento da vida.
O medo nos contos de Fadas
Ao longo de sua infância a criança enfrenta conflitos, frustrações e humilhações... São muitos os medos que as perseguem. O adulto, no caso, os pais precisam estar atentos, a criança a todo o momento necessita de incentivos para superar esta fase, como se fosse muito importante aquele acontecimento, evitar comparações entre irmãos não deixar se sentir inferior ao outro, elogiar sempre, aprender algo novo para ela, que muitas vezes para o adulto não é importante. Ás vezes isso não acontece, e é através dos Contos de fadas que a criança supera esta angústia enfrentando o medo e se compreende.
“Oferecer à criança pensamento racional para que ela organize seus sentimentos e compreenda o mundo só vai confundi-la e limitá-la. “A verdade dos contos de fada é a verdade da nossa imaginação”. (MARIUZZO, 2007).
Os contos de fadas ensinam as crianças a enfrentar o medo, através das histórias infantis onde incluem sempre personagens assustadores como a malvada madrasta de Branca de Neve, o Lobo mau da história dos três porquinhos e do Chapeuzinho vermelho.
A criança sempre gosta de ouvir repetidas vezes, mesmo assustadas, elas necessitam desse sentimento para aprender a superar o medo dentro de si, qualquer que seja ele.
Os contos de fadas vêm sendo adocicados, retirando o mau, o castigo, tornando a história neutra e sem emoção... A criança necessita ouvir histórias verdadeiras nos contos de fadas... Na tentativa de protege-la do mundo assustador e mau, sempre são recontadas as histórias suavizando o final, onde não tem morte do lobo mau, o lobo não comeu a vovozinha, ele a trancou no armário, o caçador não matou o lobo, ele apenas o amarrou e o levou para bem longe da floresta.
A criança só enfrentará o medo ouvindo o verdadeiro final, onde o lobo é morto. Só assim simbolizado pelos personagens das histórias a criança consegue vencer o medo do lobo, nesse caso morte não é violência, propicia a criança a ser corajosa, vencer seus conflitos e superar seu medo.
Os Contos de Fadas assumem papel muito importante no desenvolvimento da criança para a vida toda, através das histórias verdadeiras, liberam sua angústia e medo de não se sair bem, seja na escola ou em casa. As histórias retratam personagens que sofrem por serem maltratadas como A Cinderela, que era humilhada pela madrasta e suas irmãs e no final casou-se com um príncipe. Personagens que conseguem sobressair no final da história sendo feliz, assim a criança compreende e sabe que tudo vai acabar bem, por mais dificuldades que enfrentar em sua vida.
O conto de fadas e as conquistas da criança
Betelheim (1992) afirma que todo conto de fada giram em torno de um herói ou heroína que apresenta sua origem: pai, mãe, terra, cultura, e vivem sempre dificuldades e lutam para que aconteça uma solução satisfatória, entram em ação então a mágica, as fadas, bruxas, anjos, onde a paz reina no final, a harmonia vence o bom e o bem. No desenrolar da luta o herói tem que descobrir o que falta, compreender o processo em que está inserido, assim neste momento é transportado para o leitor inconscientemente a luta nas dificuldades, o encorajamento para delinear suas batalhas, estabelece-se a conexão entre o consciente, e o inconsciente, o mesmo acontece com os sonhos, para a criança é uma representação simbólica no inconsciente que se transporta para o consciente na tentativa de compreendê-lo.
Para Betelheim (1992) a criança pode aprender e apreender-se por meio dos contos de fadas, onde ela reconhece, identifica aos outros e a si mesma, porque não lhe oferecer melhores condições de forma mais prazerosa, o crescimento e o amadurecimento por meio dos contos?
Na verdade, por mais que os homens transformem o mundo em que vivem com sua inteligência e trabalho, sua natureza humana não muda. Nelas se misturam as paixões da alma (amor, ódio, amizades, medo, inveja, ideais, ciúme, solidariedade) e as necessidades básicas do ser humano, ar, alimento e proteção para o corpo. (VIEIRA, 2005, p.10)
Ele ainda afirma que quando dramatizamos um conto, por exemplo, O Patinho Feio estamos transportando sentimentos ligados à raça, preconceito e á luta, ou o conto da Chapeuzinho Vermelho que transporta sentimentos ligados a obediência. A criança em contato com a leitura mesmo que não saiba ler, que só faça leitura de gravuras e as explore de sua maneira interpreta as ações, já se oportuniza e desperta para o letramento e não somente a decodificação. A criança tem que ser estimulada a ler, e faze-la por prazer, quanto mais cedo leitora mais hábil será sua interpretação e expressão.
“É preciso descobrir que os contos de fadas têm na base a vida real, e que a literatura infantil não é infantil ou pueril, como o senso comum a considera, e acima de tudo é um excelente meio de educação a ser explorado” (VIEIRA, 2005, p.12).
Os contos de fadas são reconhecidos facilmente, através deles logo se nota a existência de fadas, reis e rainhas, bruxas, animais que falam e a introdução sempre é a mesma: “Era uma vez”, são elementos que facilitam a memorização e a interiorização porque fazem parte de um mundo onde tudo é possível, tapetes voam, galinhas botam ovos de ouro, a barriga do lobo é aberta entre outros em tantos contos. A criança necessita de ludicidade, fantasia, onde seja transportado para um mundo imaginário.
Rotta (2005) afirma que a fantasia é um mecanismo inventado pelo homem na era medieval para superar as dificuldades da vida real, e que algumas histórias tratam de temas que fazem parte da tradição de muitos povos e apresentam soluções para problemas universais, como o Pequeno Polegar, personagem que representa o desejo de vingança do mais fraco contra o mais forte. Os contos proporcionam vivências dos problemas de um modo simbólico, o que dá prazer e transfere para a criança em uma linguagem onde ela é capaz de interiorizar. Nos estudos realizados pelo psicólogo austríaco Bruno Betelheim (1903-1990), nenhum tipo de leitura é mais satisfatório do que os contos de fadas, pelo fato de ensinar sobre os problemas interiores dos seres humanos e apresentarem soluções em qualquer sociedade, ou seja, a fantasia ajuda a formar a personalidade e por isso não pode faltar na educação.
A criança tende a ter mais medo na infância da separação dos pais, drama que é presente em muitas histórias. Para Betelheim a agressividade e o descontamento com irmãos, mães e pais são vivenciados na fantasia dos contos, o medo da rejeição é trabalhado em João e Maria, a rivalidade entre irmãos em Cinderela e a separação entre as crianças e os pais em Rapunzel e o Patinho Feio.
Segundo Rotta (2005), especialistas afirmam que a tendência de retirar o mal dos contos é forte atualmente, o que não deve acontecer, pois são sentimentos que fazem parte da vida.
No decorrer da pesquisa encontram-se relatos de profissionais da educação que já aderiram aos contos para jovens, adolescentes de 5º á 8º série na tentativa de formar leitores críticos.
O conto de fadas também tem a função de resgatar o tempo da alma, pois a vida infantil precisa cumprir cada etapa do seu desenvolvimento para que uma estrutura psíquica possa ser elaborada, o tempo da alma é que regula o passo das frases do amadurecimento humano em oposição a ansiedade e acumulo de demandas, cobranças e pressões de toda sorte que a sociedade moderna exerce sobre os indivíduos...(TANOUYE, 2006)
Fica fácil para as crianças falarem depois de ouvir histórias (na conversa depois da história) quando se faz rodinha, neste momento elas têm mais facilidade de expôr suas angústias, pois depois da história já compreendeu a seu modo a solução para o conflito vivido naquele momento, é importante este momento, pois é nele que se observa e percebe quais são os conflitos vividos pela criança. O educador deve se preocupar em propiciar a conversação, e não julgamentos, pois a história se encarrega disso de uma maneira prestigiada através de todos os recursos de que dispõe.
Betelheim (1992) afirma ainda que na medida em que as histórias se desenrolam, transmite importantes mensagens a mente consciente. A criança que tem contato com os contos de fadas será preparada para lidar com problemas humanos universais que preocupam o seu pensamento. Ela se interioriza e na sua personalidade age e será capaz de julgar e formar sua idéia. A criança se identifica com o personagem que lhe desperta simpatia, é o caso do herói que lhe transmite uma pessoa boa, o que lhe desperta antipatia é o mal da história, ela se interioriza se perguntando: Com quem quero parecer? O herói lhe passa segurança e possibilidade de dominar as dificuldades.
As famílias hoje preferem ter poucos filhos, não é mais como antigamente que se vivia entre muitos irmãos e por esse motivo se faz necessário prover a essa criança as imagens dos heróis que partiram para o mundo sozinho e que apesar das dificuldades encontraram lugares seguros com confiança interior. A criança se sente isolada e insegura, e os heróis estão sempre em contato com coisas primitivas como a árvore, o animal, então estabelece-se uma relação significativa e compensadora com o mundo a seu redor e será capaz de deixar sua dependência infantil e se tornar mais independente.
Betelheim (1992) relata em sua obra que os contos de fadas prometem as crianças que tiverem força de vontade e garra terão uma vida compensadora, conseguirão alcançar seu objetivo, adverte também que aquele que se acomoda, teme e não arrisca terá uma vida medíocre e monótona. Através dos contos, a criança será capaz de saber o que realmente quer buscar, sua auto-estima será aguçada e se tornará independente, capaz de decidir e formar sua própria opinião.
Interesse e prazer, os dois caminham juntos.
É importante lembrar que os contos não se limitam só nas histórias, mas também nas brincadeiras, representando ou brincando, a partir de uma história, desenhar, recontar, dramatizar são algumas formas lúdicas de trabalhar a história.
Tendo em vista que o conto de fadas faz parte e é importante para o desenvolvimento da criança, as escolas buscam atrair mais a atenção das crianças para que este contato com as histórias seja um momento de prazer em um ambiente lúdico, onde ela possa interiorizar e a aprendizagem ser significativa para ela.
Aquele espaço que antes era um amontoado de livros e prateleiras agora é um ambiente confortável onde ela poderá explorar e conhecer vários gêneros literários. É importante que os profissionais estejam atentos e se desempenham em criar ambientes favoráveis para que a criança veja a biblioteca como um espaço confortável e aconchegante e não um lugar frio que ela visite por obrigação.
Para que o aluno possa escolher livremente um livro que possa lhe interessar e para que este possa ser trabalhado em sala, o professor deve conhecê-lo, tê-lo lido. Justifica-se esta importância da leitura porque é através dela que o leitor consegue se visualizar e familiarizar com alguns personagens ou vivenciar uma dada situação. É neste ambiente que se sente a atração da leitura. Portanto, para formar um leitor, é necessário ser leitor”. (BUENO apud STEINDEL 2006)
Nas práticas que vivenciam os educadores é clara essa afirmação, o leitor ativo apreende mais informações e tem maior facilidade de incentivar leitores, hoje é imprescindível ler entre as linhas, é muito difícil fazer o outro gostar de algo que a própria pessoa não goste. O mesmo acontece com a leitura, como ensinar uma criança a ter prazer pela leitura se o próprio não adere a isso, vale lembrar que além dos benefícios já citados, a literatura em qualquer gênero também é um dos mais ricos portadores objetos de alfabetização, se não há incentivo, prazer, não há como transportar esses momentos e provavelmente não haverá um objetivo claro e concreto.
...”Faz-se necessário que o professor demonstre interesse pelo livro e leitura em todos os momentos, para que sirva como exemplo para a criança que é um imitador nato de atos e atitudes...” (FREIRE apud COSTA, 2006)
Para que o professor aguce o interesse da criança pelos contos de fadas é necessário conhecer a história e demonstrar o gosto e prazer ao contá-la. A criança terá como referência aquele primeiro contato com os contos e o que vai favorecer muito é a maneira com que essa história lhe foi contada, e isso vale ao longo de sua vida. O educador preparado será de grande importância para a vida da criança, formando um leitor, e mais ainda, um adulto que terá gosto pela leitura, já que a criança é um imitador nato das atitudes do adulto.
Betelheim (1992) diz que quando se conta uma história de maneira prazerosa e rica de detalhes como o imitar de vozes dos personagens, variações nas entonações da voz, passa-se para a criança neste momento o interesse e estimula seu pensamento onde começa a estruturar racionalmente o seu mundo, se tornando uma criança mais segura.
Significados e resgates nos contos de fadas para alguns pesquisadores.
Segundo Bencini (2007), no artigo “O maravilhoso mundo dos contos de fadas”, diz que é fácil reconhecer um conto de fadas, pois nele sempre há reis e rainhas, animais que falam, objetos animados e o famoso começo “Era uma vez”.
A autora utilizou-se de pesquisas em fontes bibliográficas e esclarece que a oportunidade que se tem para explorar a fantasia das crianças com histórias clássicas do escritor infantil Hans Christian Andersen é uma oportunidade de ouro com muitos recursos a serem explorados.
“Figueredo (2007) apud Schiller diz que há maior significado profundo nos contos de fadas que me contaram na infância, do que na verdade que a vida ensina”.
Ela diz que todos nós em algum momento de nossas infâncias, já vivemos sob os encantos dos contos de fadas, mas pontua que esses mesmos contos vêm sendo deturpados, perdendo sua originalidade fazendo com que as crianças venham a perder o interesse pela leitura. Através de observações, ela tenta ressuscitar o interesse por estes clássicos proporcionando o contato com esta literatura rica, estimulando a imaginação e mostrando o que o conto de fadas desperta no imaginário das crianças que tanto as fascina e porque eles são importantes para elas.
O enfoque dado por Coelho (2006) em seu artigo “O imaginário infantil e a educação”, é que o conto de fadas é cheios de mistérios e encantamento a ser desvendado. A autora fundamentou-se em estudos baseados em pesquisas feitas pelos psicólogos Jung e Freud onde se resulta em descobrir que este é um excelente meio de educação a ser explorado, pois sua matéria-prima é extraída de verdades humanas.
Para Costa (2006), nenhum tipo de leitura é tão enriquecedor e satisfatório mais que os contos de fadas. O autor tem como objetivo principal em seu artigo estimular o professor pondo-o como mediador, fazê-lo contador de histórias infantis. Ela utilizou-se de pesquisas bibliográficas no intuito de descobrir pontos significativos dentro dos contos de fadas propiciando uma ação significativa, envolvendo o aluno e aumentando o seu poder de imaginação.
Enquanto que Bencini (2005), afirma em seu artigo, “A fantasia ajuda a formar a personalidade, que algumas histórias tratam de temas que fazem parte da tradição de muitos povos e que apresentam soluções para situações de conflito”. Tem como objetivo mostrar que a fantasia ajuda na formação da personalidade de crianças e por isso não pode faltar na educação. Baseado em pesquisas bibliográficas, o autor conclui que os contos de fadas não devem ser restritos a um ou outro, já que é uma leitura que contribui para a formação de leitores críticos.
Todos esses autores deixaram de enfocar os benefícios e as interferências que os contos de fadas fazem ao longo do processo do desenvolvimento infantil e posteriormente na vida adulta. Visto assim objetivamos pesquisar sob o olhar de pesquisadores da área sobre o tema onde buscaremos resultados que auxiliarão na prática docente, uma vez que lidamos diariamente com situações de conflitos universais gerados no processo de desenvolvimento infantil por cada criança.
O conto de fadas sob olhares diversificados
Hoje as crianças não crescem dentro da segurança de uma família numerosa, ou de uma comunidade bem integrada. Por conseguinte, mais do que na época em que os contos de fadas foram inventados, é importante prover a criança moderna uma literatura que dá subsídios para formá-los para uma sociedade futura e seletista.
Para Betelheim (1992), os contos de fadas aliviam as pressões exercidas pelos problemas, favorecem a recuperação incutindo a coragem na criança mostrando-lhe que é sempre possível encontrar saídas, fornece grandes contribuições, encorajando-a á luta por valores amadurecidos e a uma crença positiva na vida que formarão a sua personalidade ao longo da vida adulta.
Nada é tão enriquecedor e satisfatório para a criança, como para o adulto do que o conto de fadas. A criança deve receber ajuda para que possa dar algum sentido coerente ao seu turbilhão de sentimentos, é no conto de fadas que ela encontra esse tipo de significado, pois estes transmitem importantes mensagens à mente humana. (BETELHEIM, p.
De acordo com Abramovich (1995), ao ler um conto a criança suscita o imaginário, tem a curiosidade respondida em relação a tantas perguntas, encontra outras idéias para solucionar questões (como as personagens fazem). É uma possibilidade de descobrir o mundo imenso dos conflitos, dos impasses, das soluções que todos vivemos e atravessamos através dos problemas que vão sendo defrontados, enfrentados, resolvidos ou não pelas personagens de cada história, cada uma a seu modo. É a cada vez ir se identificando com outro personagem, cada qual no momento que corresponde àquele que está sendo vivido pela criança e, assim, esclarecer melhor as próprias dificuldades ou encontrar um caminho para a resolução delas.
Por quê? Porque os contos de fadas estão envolvidos no maravilhoso, um universo que denota fantasia, partindo sempre duma situação real, concreta, lidando com emoções que qualquer criança já viveu... Porque se passam num lugar que é apenas esboçado, fora dos limites do tempo e do espaço, mas onde qualquer um pode caminhar... (...) Porque todo esse processo é vivido através da fantasia, do imaginário, com intervenção de entidades fantásticas (bruxas, fadas, duendes, animais falantes, plantas sábias...). (ABRAMOVICH, 1995, p.120).
Wallon (1934) afirma que a criança ao se desenvolver passa por estágios onde necessitam de intervenções que as direcione para uma maturidade onde a criança seja conduzida a dominá-la. Ao longo dos anos pesquisando ele conclui que a criança para se desenvolver começa esses estágios na vida intra-uterina e se estendendo até os cinco anos. Cada fase que a criança passa é um passo a mais que a prepara para a interação com o mundo onde cada uma tem sua devida importância sendo necessária para a construção de sua personalidade.
O desenvolvimento do pensamento na criança é descontínuo, assinalado por “crises”, “conflitos”, comparados com mutações biológicas, saltos numa palavra, e que provocam reestruturações (não evoluções) do comportamento.
(WALLON apud MRECH).
O primeiro pensamento na criança é autístico (individualista), é a forma original, mais primitiva, e seus objetivos estão no subconsciente. O pensamento egocêntrico é o intermediário entre o autista e o pensamento. Para evoluir ao pensamento socializado, a criança deverá sofrer contínua pressão social. O pensamento dirigido, intencional, é a fala socializada, a criança tenta comunicar-se com os outros. (PIAGET apud DOBBIN, 2000).
Dobbin pesquisando as obras de Piaget (1923) sobre o desenvolvimento do pensamento infantil diz que uma delas é a chamada lei da consciência, segundo a qual um obstáculo ou uma perturbação em uma atividade automática despertam naquele que a pratica, a consciência dessa atividade. A outra premissa é de que a fala é uma expressão desse processo de conscientização.
Vigotsky considerou a fala primitiva como essencialmente social também global e multifuncional: “Numa certa idade, a fala social divide-se em fala egocêntrica e fala comunicativa”... A fala egocêntrica emerge quando a criança transfere formas sociais e cooperativas de comportamento para a esfera das funções psíquicas interiores e funcionais. (VIGOTSKY, 1993, p.13).
Após a aquisição da fala, pensamento e linguagem se articulam, formando o pensamento verbal, sendo o biológico reelaborado a partir do sócio-histórico. Isto é, a linguagem se modifica a partir dos estímulos, das interações sociais. Um aspecto muito importante a ser considerado é o papel da atividade da criança na evolução de seus processos mentais. A partir de ações intencionais é que a criança desenvolve sua inteligência e vai planejando a solução de problemas cada vez mais complexos. (DOBBIN, 2000).
O raciocínio infantil não é nem dedutivo nem indutivo, mas transdutivo, indo do particular ao particular; o juízo não é lógico por ser centrado no sujeito, em suas experiências passadas e nas relações subjetivas que ele estabelece em função das mesmas. Os desejos, as motivações e todas as características conscientes, morais e afetivas são atribuídas às coisas (animismo). A criança pensa, por exemplo, que o cão late porque está com saudades da mãe. Por outro lado, para as crianças até os sete ou cinco anos de idade, os processos psicológicos internos têm realidade física: ela acha que os pensamentos estão na boca ou os sonhos estão no quarto. Dessa confusão entre o real e o irreal surge a explicação artificialista, segundo a qual, se as coisas existem é porque alguém as fez. (PIAGET apud DOBBIN, 2000).
Muitos estudiosos da área, como a Coelho, Abramovich e Betelheim emergiram nos contos de fadas a fim de desvendar o mistério existente nesta literatura que ao mesmo tempo em que proporciona prazer, transmitem mensagens animistas na luta pela vida. A criança inicia a vida cheia de medos, inseguranças e frustrações passam por processos natos da vida humana que são necessários para a formação de uma base construtora e sólida para uma vida posterior (adulta). Dentro dessas integrações a criança emerge-se em conflitos, pensamentos ambivalentes e se perde, às vezes entrando em desespero e demonstrando reações que muitas vezes nem ela entende. Nesta transposição é importante que o seu nível de maturação esteja se desenvolvendo de forma correta, em idade certa para poder assim desvendar esses mistérios e criar subsídios que a darão suporte para as fases do desenvolvimento infantil, principalmente no cognitivo.
A criança é capaz de imaginar, isto é de fantasiar uma solução favorável para seu período presente, as explosões temperamentais desaparecem. Se uma criança é incapaz de imaginar seu futuro de modo otimista, estabelece-se uma parada no seu desenvolvimento. ( BETELHEIM, p. 156)
Os autores examinados e aqui citados mantêm pensamento numa mesma linha defendendo os mesmos interesses embasando-se um nas pesquisas do outro, mais propriamente do austríaco Bruno Betelheim que foi o papa de todo este assunto que envolve a construção da personalidade. Apresentaram divergências entre o pensamento de Piaget e Vigotsky quando falam do desenvolvimento do pensamento infantil onde Piaget defende por uma linha mais autista, primeiro de forma egocêntrica e depois de forma socializadora. Vigotsky por uma linha mais socializadora, onde para ele é uma prática social. Para nós autoras deste trabalho entendemos que a criança quando está neste processo, através de nossas experiência como educadoras percebemos que elas acabam por passar pelas duas fases, já que cada uma depende do momento em que vive.
Considerações finais
Nos tempos atuais a criança vive em um mundo onde seus pais trabalham, o número de irmãos é menor, às vezes vive somente com a mãe que também trabalha fora. São crianças mais expostas aos problemas da vida, inseguras e frágeis aos conflitos e através dos contos de fadas, a criança é capaz de vencer obstáculos em sua vida, com mais segurança e auto-estima. Ouvir os contos de fadas é fundamental para o seu desenvolvimento e formação de sua personalidade.
A criança vivencia através da história conflitos que muitas vezes enfrenta, seja em casa, na escola, nesse sentido a fantasia estimula a auto-estima da criança, levando-a a encarar seus problemas com mais esperança de um final feliz. Sabemos que as histórias retratam conflitos, humilhações, vividos pelos personagens, que são os heróis das crianças, como Branca de Neve, Cinderela, Patinho feio, são personagens que se sobressaem apesar dos obstáculos enfrentados, identificam-se e levam consigo a esperança de que tudo acabará bem.
Diante disso percebemos que toda criança necessita de histórias para cumprir as etapas do seu desenvolvimento, criando suas próprias opiniões e formulando hipóteses onde é capaz de tomar decisões e ter uma vida posterior mais tranqüila indo ao encontro de soluções que ela própria irá desvendar.
Bibliografia
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ABRAMOVICH, Fanny. Literatura infantil, gostosuras e bobices. São Paulo: Scipione, 5º edição, 2002.
ANDRÉ, Tamara Cardoso. Literatura Infantil – Práticas adequadas ajudam a despertar o gosto pela leitura. Revista professor, Porto Alegre, vol. 20, p. 18-21, abr./jun. 2004
BENCINI, Roberto. A fantasia ajuda a formar a personalidade. Revista Nova Escola, São Paulo, vol.185, p.75 - 77, setembro. 2005.
BETELHEIM, Bruno. A Psicanálise dos contos de fadas. São Paulo: Paz e Terra, 9º edição, 1992.
BUENO, Beatriz Silvana. A biblioteca e a brinquedoteca. In: STEINDEL, Gisela Eggert et al. Disponível em:
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Trabalho monográfico de conclusão do curso de Normal Superior (2007) do Centro Universitário de Caratinga – Minas Gerais.
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